quinta-feira, 30 de março de 2023

A LENDA DA EMBRIAGUEZ

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   Preparava-se Noé para plantar a primeira vinha e eis que surge diante dele a figura nega e hedionda do demônio.

       - Que pretendes plantar aí?  - perguntou o Demônio.

       - Uma vinha! - informou Noé, encarando com olhar sereno o seu insolente interrogante. 

       - E como são os frutos que esperas colher, meu velho? - inquiriu friamente o Demo. 

       - Ora - explicou o Patriarca de bom humor - são frutos deliciosos, sempre doces. Os homens poderão saboreá-los maduros e frescos ou secos e açucarados. Do caldo desse fruto poderá ser fabricado uma bebida - o vinho - de incomparável sabor. Essa bebida levará alegria e inspiração os corações dos mortais!

       Quero associar-me contigo no plantio dessa vinha! - propôs o Demônio com certo acinte na voz.

        - Muito bem - concordou Noé - Trabalharemos juntos. Ficarás, desde já, encarregado de regar a terra.  

        E o demônio, no desejo de agir pela  maldade, regou a terra com o sangue de quatro animais tirados da Arca: o cordeiro, o leão, o porco e o macaco. 

        Em consequência desse capricho extravagante do Maligno aquele que se entrega ao vício degradante da embriaguez recorda, forçosamente, um dos quatro animais. Bem infelizes os que se deixam dominar pelo álcool! Tornaram-se alguns sonolento e inermes como um cordeiro; mostram-se outros exaltados e brutais como o leão: muitos, sob a ação perturbadora da bebida que os envenena, ficam estúpidos como o porco. E há, finalmente, aqueles que, depois dos primeiros goles, fazem trejeitos, dizem tolices e saracoteiam como macacos. 

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NOTA: Essa lenda é encontrada emR. Tanhuma, 13. Cfr.A. Cohem - "le Talmud", tradução de Jaques Marti; Payot, Paris, 1933.

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