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Uma raposa pusera-s a namorar avidamente uma vinha tão bem cercada que não havia brecha por onde entrasse. Deu voltas mais voltas, até que topou um resquício entre os moirões, da cerca. Lança-se por ele, impetuosamente, mas era tão estreito que mal pode insinuar a cabeça. Esforça-se daqui, tenta dali, mas tudo em vão. Veio-lhe então a ideia um plano singular: "Se eu pudesse, monologava ela, emagrecer bastante passaria por esta brecha". Resolvida a vencer a prova, submeteu-se a um estranho teor de vida: ficou três dias sem provar alimento algum, e pôs-se tão fina e magrinha que mais parecia um palito. Toda ancha com o sucesso, esgueira-se pelo delgado vão e entra radiante, na vinha. Ali pode pagar-se de tudo quanto sofrera e passou alguns dias na mais regalada abundância.
Chegado o tempo de sair, receosa dos donos do vinhedo que não podiam tardar, corre à brecha por onde entrara e tenta meter-se por ela. Aconteceu, porém, que a infortunada, naqueles poucos dias de regabofe, engordara tanto que não mais cabia ali.
Mais triste do que um mocho, desiste do intento e resolve repetir a provação por que passara, pondo-se, de novo, em rigoroso jejum até que, novamente magra como um esqueleto, lhe foi possível safar-se pelo agulheiro. Estava, porém, tão fraca e debilitada, que parecia um cadáver.
Livre daquele cativeiro, olhou melancolicamente para a vinha e disse-lhe: "Adeus, não me apanharás mais. És sedutora e deliciosa. Tens, em abundância, frutos saborosos,mas que importa? De ti saio, como entrei."
Moral da história: Assim é o homem em relação aos prazeres efêmeros da vida terrena. O homem quando nasce tem os braços estendidos para a frente, como se dissesse: "Eis o meu mundo. Todo este mundo é meu!" Quando morre traz os braços ao longo do corpo, como a prevenir os que se aferam aos bens matriais: "Nada levo deste mundo, Deixo para a vida o que tudo o que ela me deu!
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NOTA: Essa interessantíssima fábula da raposa é narrada em Midrach, pagina 98, 2. Sob o título "Lavie" podemos admirá-la numa versão um pouco diferente em "Cntes du Talmud", de Léon Berman. página 90. É atribuída a Rabi Gniva, do III Século, conforme Koheleth Rabba, I parte.
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