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Um doutor da lei apresentou-se,certa vez, diante de Jesus e interrogou-o:
- Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?
Jesus ergueu o rosto, fitou-o com bondade e perguntou:
- O que está escrito a lei? Que encontras a tal respeito entre as suas prescrições?
O doutor israelita apressou-se em responder:
- "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo teu coração, de toda tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças e teu próximo como a ti mesmo."
Tornou Jesus, serenamente:
- Respondeste muito bem: fazei assim e viverás.
O doutor da lei, depois de meditar um instante,novamente interpelou o Mestre:
- Dizei-me, ó Rabi, a quem devemos considerar como o próximo?
Para atender a essa nova pergunta, Jesus narrou o seguinte:
- Descia um judeu de Jerusalém para Jericó, pelas gargantas tortuosas das montanhas. Os ladrões assaltaram-no, e tendo-o agredido e roubado, deixaram-no mal ferido na estrada. Passa um sacerdote, um daqueles que tem o primeiro lugar nas festas e assembleias e se blasonam (se vangloriam) de saber na ponta dos dedos todos os ditames da vontade de Deus; vê o infeliz caído, e não interrompe a sua marcha e para evitar contatos imundos, segue apertando o passo pela margem da estrada. Eis, logo depois, surge um levita. Também este, afamado pelo seu zelo, conhecendo, por miúdo, toda as cerimônias sagradas, julgava-se, antes, um dos senhores do Templo,que mero sacristão. Olha de esguelha o corpo sangrento, ouve os gemidos de dor e prossegue impassível em sua jornada. Passa, finalmente, um Samaritano. Não perdeu o Samaritano tempo em verificar se o infeliz, estendido nos pedregulhos da estrada, era da Samaria (cidade de Israel) ou se nascera na tribo de Judá. Aproxima-se e, vendo-o assim abandonado, quase a morrer, enche-se de compaixão por ele. Vai buscar seus frascos na montaria; derrama sobre a ferida do infeliz um pouco de óleo, algumas gotas de vinho, ata-o o melhor que pode, com pano e com esforço e cautela acomoda o desconhecido no dorso de sua mula: leva-o com amenidade e cordura (prudência) para a hospedaria mais próxima; mete-o num leito, restaura-lhe as forças com alguns alimentos quentes e só o deixa quando o vê falando e comendo. No dia seguinte paga dois dinheiros ao hospedeiro, dizendo-lhe com o maior interesse: "Cuida dele, meu amigo, vela por ele o melhor que puderes; o que gastares mais pagar-te-ei na volta.
Neste ponto fez Jesus uma pausa e, dirigindo-se ao doutor israelita, perguntou:
- Qual dos três se mostrou, a teu ver, o próximo do desventurado que caíra nas mãos dos salteadores?
Respondeu o doutor da lei num ímpeto irreprimível:
- O que se apiedou dele! O samaritano que o socorreu!
Rematou Jesus com um sorriso de bondade:
- Assim o disseste. Vai e imita-o!
NOTA: Poderia parecer estranho que este famoso episódio do Novo Testamento viesse a figurar entre as lendas e tradições israelitas. Convém não esquecer, porém, de que Jesus era Judeu e que o cristianismo, embora espiritualmente, está vinculado a Israel. Não seria, portanto,aceitável uma Antologia judaica que silenciasse sobre a obra de Jesus e de seus discípulos que são figuras notáveis na vida cultural israelita.
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