O doutor Humá era rico, tinha-se em conta de muito piedoso, porém, em período relativamente curto, sofreu inúmeras perdas e graves desgostos.
Um dia, conversando com os colegas, tomou por tema da palestra as suas próprias desgraças. Arrebatados pelo ardor dos comentários procuram os circunstantes esclarecer a dúvida: - É admissível que as desventuras terrenas seja consequência de algum pecado cometido por quem sobre? Opinaram alguns que como não existe homem isento de culpa, as dores terrenas são sempre consequências dessa culpa.
O doutor Humá, um pouco ressentido por esta conclusão que parecia uma ofensa ao seu caráter, e um tanto despeitado, objetou:
- Acreditais, então, que eu seja réu de alguma falta grave?
Um dos colegas replicou:
- E tu ousas imaginar que o Senhor castiga um mortal sem causa?
- Mas - tornou o doutor mordido por uma preocupação - se me credes culpado em qualquer coisa dizei-o siceramente, e eu procurarei corrigir-me.
- A julgar pelo que sabemos de ti - declarou um dos presentes - és justo em todos os teus atos. De uma só falta, de uma só, temos ouvido falar. Ocorre por ocasião da vindima. Não dás ao teu criado a parte da vinha que a caridade impõe.
- Que não lhe dou sua parte? protestou risonho o doutor - Mas não credes vós outros que o tal criado me furta muito mais do que deveria eu dar-lhe?
- É pela suspeita de que teu criado te furta, furtas ao criado? Diz o provérbio: "Quem rouba ao ladrão faz-se também ladrão".
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NOTA: Esse episódio é tirado do Talmud Berachot, pagina 5. Estabelece o livro da Leique se dê aos criados uma parte dos diversos produtos do campo.
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